Na cidade de Austin, oásis progressista que é capital do tradicional e conservador estado do Texas, nasce em 1987 o SXSW, um dos maiores festivais de inovação da atualidade. Criado para inserir a cidade na cena cultural americana e celebrar sua qualidade musical e artística, o South by Southwest é fruto do inconformismo de quatro jovens rebeldes - Roland Swenson, Louis Jay Meyers, Louis Black e Nick Barbaro.
Aos poucos, e sem grandes pretensões comerciais, o SXSW foi se tornando palco dos maiores nomes da música no país. Mas foi quando houve o anúncio do Interactive que a primeira grande mudança de rota se consolidou. O ano de 1994 deu espaço para a programação que permanece até hoje e que permite conversas sobre tecnologia, entretenimento e negócios. Os fundadores resolveram disponibilizar vários computadores conectados à internet, a novidade mais quente daquela época, para que as pessoas pudessem experimentar a WWW. Desde então, graças ao "Internet Theatre" do evento, passaram a antecipar todas as mudanças que mudariam o rumo da nossa sociedade.
Ao longo de 34 edições presenciais e 2 virtuais, líderes do mercado como Bill Gates, Elon Musk e Mark Zuckerberg; autores como Malcolm Gladwell e Richard Sterling; cineastas como Steven Spielberg e Richard Linklater; e influenciadores como Brené Brown, Marie Kondo, Jennifer Doudna e Adam Grant estiveram em seus palcos. Sem falar de políticos como Barack Obama enquanto presidente da república, Hillary Clinton, Joe Biden, Alexandria Ocasio-Cortez, Elizabeth Warren, Al Gore e Bernie Sanders. Debates sobre justiça social, sustentabilidade e ética trouxeram todos estes democratas, como era de se esperar de um evento com forte viés humanista.
A pauta dominante de 2023, como já se imaginava, foi o impacto da inteligência artificial na sociedade. Como o fenômeno do ChatGPT e sua rápida absorção no cotidiano ainda estão frescos na nossa história, muitas questões não encontraram resposta, mas o debate sempre será essencial. Kevin Kelly, cofundador da excelente revista Wired, defende que o ChatGPT será um assistente pessoal e auxiliar de pesquisas, brainstorms e tarefas criativas mais simples, mas que nunca poderá substituir o contato humano. "Pensar diferente é o motor da inovação", disse ele em um convite à plateia para experimentar a tecnologia e compreender suas vantagens e possíveis malefícios.
Além da Conference, que sozinha tem mais de 1.500 sessões, o SXSW ainda oferece um festival de cinema, que teve este ano grandes lançamentos-surpresa como o filme "Air", sobre o icônico tênis da Nike, com Ben Affleck e Matt Damon, que estiveram pessoalmente na pré-estreia no celebrado Paramount Theatre; e "Still", documentário sobre a vida do ator Michael J. Fox, que luta contra a doença de Parkinson há 32 anos, e também esteve no lançamento. E não podemos esquecer do festival de música, que além das várias bandas indie e folk, marcou este ano com o lendário New Order, que fez um show arrebatador.
O que faz do SXSW um festival único em um contexto onde proliferam (especialmente depois da pandemia) grandes eventos de inovação é sua mistura de tribos. É na convergência dos criativos e dos geeks; dos filósofos e dos cientistas; dos artistas e dos nerds; dos ativistas e dos capitalistas, que reside sua fórmula mágica.
Nos corredores do Austin Convention Center,todos são estudantes novamente; é como se o SXSW resgatasse em cada um o prazer de aprender. De repente, passar o dia inteiro assistindo palestras em salas escuras se torna uma experiência lúdica, que emociona, surpreende e instiga, abrindo novas avenidas de conhecimento. As conexões humanas que se formam ao acaso - a conversa amistosa com uma pessoa sentada ao seu lado, o papo despretensioso na fila do cinema - também são uma fonte de descobertas. E o público internacional vem crescendo, felizmente. Este ano, o curador Hugh Forrest falou em 30% dos participantes. Os brasileiros superaram seu recorde, marcando presença com mais de 2 mil inscritos.
É um privilégio viver uma semana de experiências tão especiais e transformadoras. Aqueles que visitam dizem com frequência que suas vidas se dividem entre antes e depois. Há quem mude de emprego, de carreira (como eu), de país. Mas ninguém permanece o mesmo. Para mim, não existe maneira melhor de ampliar o repertório de forma tão rápida, intensa e prazerosa; é por isso que volto todos os anos.
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Andrea Janér, CEO da Oxygen
Colunista
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