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Web3: como a internet está redefinindo a propriedade e o valor digital? 



A internet como conhecemos se tornou uma parte fundamental das nossas atividades diárias. O Global Overview Report (2022) revelou que o número de usuários diretos da internet mais que dobrou na última década, atingindo a marca exorbitante de 62,5% da população mundial. Essa conectividade redefiniu a maneira como nos comunicamos e vivemos, moldando profundamente a sociedade moderna. 


A blockchain, assim como as demais tecnologias relacionadas, trouxeram consigo uma nova era da internet. Hoje, vivemos um momento em que qualquer ativo (tangível ou não) pode ser gerido de forma a gerar valor de maneira segura. Nesse novo cenário, a Web3 surge como protagonista, trazendo consigo um novo paradigma de propriedade e valor digital que está moldando os dias atuais e o futuro. 

A Web3 nasce com o objetivo de proporcionar a descentralização da estrutura da internet junto aos seus diversos usuários, quebrando o formato típico (Web2) onde os dados são massivamente concentrados nas big techs. Em outras palavras, estamos vivendo a transição de um modelo centrado na localização dos arquivos (Location Based Addressing) para um modelo centrado no conteúdo (Content Based Addressing). Dentro deste contexto, o fator da confiança deixa de recair sobre um intermediário e é obtido através da colaboração através da tecnologia. 

Na prática, a Web3 está proporcionando o surgimento de tecnologias, sistemas e aplicações nas mais diversas esferas, como as organizações autônomas descentralizadas (DAOs), que mudam a lógica organizacional e permitem a colaboração descentralizada baseada em regras auto exequíveis; as aplicações descentralizadas (dApps), softwares de código aberto que operam de forma descentralizada (via DLT ou P2P) e independente de uma única organização; e as carteiras descentralizadas (decentralized wallets), que conferem aos usuários o total controle e custódia sobre seus ativos digitais.  


Lançando um olhar sobre o segmento financeiro, a Web3 é a responsável por ser o arcabouço por trás do chamado DeFi (Decentralized Finance). O DeFi se refere à descentralização do sistema financeiro através de tecnologias descentralizadas (como a blockchain e outras DLTs), incluindo novas formas de dinheiro e ativos digitais, mudando a nossa forma de interagir e extrair valor destes. Dentre os benefícios do DeFi, podemos destacar uma maior autonomia aos seus usuários, a redução de custos (sobretudo devido a eliminação ou mudança de papéis de intermediários), e uma maior democratização dos ativos financeiros de forma transparente e segura. 


São diversos os casos em que os construtos da propriedade e do valor referentes aos ativos financeiros estão sendo transformados. A liquidação de ativos (e.g. CCBs, CCIs, recebíveis em geral) vivencia um processo de fragmentação através da tokenização, de modo que uma maior eficiência, desburocratização e liberdade sejam conferidos. Os pagamentos transfronteiriços estão cada vez mais próximos de serem em tempo real e a qualquer momento com o avanço da adoção de CBDCs pelo mundo e o debate de uma plataforma global comum que promova a interoperabilidade e a vinculação efetiva entre essas moedas. Os NFTs estão deixando de ser uma classe de tokens com aplicação meramente colecionável (como o caso icônico dos Bored Apes) e passam a ter impactos representativos na representação de ativos do mundo real (RWA), em identidades descentralizadas (DID), e na experiência dos clientes através de programas de customer loyalty, construção de comunidades e personalização.


E o que esperar do futuro neste tema? Essa é uma pergunta difícil e arriscada de se responder, sobretudo em um contexto tão dinâmico e abrangente. O nosso melhor palpite é que, no curto prazo, novas soluções e ferramentas continuarão a surgir como consequência do movimento de exploração do que é novo, enquanto no médio prazo a exploração do que já é conhecido amadurecerá e se intensificará (o clássico par “exploration” e “exploitation”, visto por diversas vezes no contexto da inovação).  


E com esse amadurecimento (tecnológico, mercadológico e social), acreditamos ser possível um cenário de combinação efetiva entre tecnologias emergentes no longo prazo, onde pautas como Inteligência Artificial, Computação Quântica, Metaverso e Internet das Coisas deixarão de ser tratadas como clusters apartados e se integrarão em um novo ecossistema, gerando impactos ainda incomensuráveis. Mas, uma coisa é certa: estamos vivendo uma revolução tecnológica que está mudando a forma como criamos, interagimos e compartilhamos valor em nossa sociedade. 



João Gianvecchio

Gerente de inovação banco BV

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